Simbolismo da Maçã - compilação de textos retirados da Net

Adriana Zierer (Uema)
Resumo

Neste artigo procuramos analisar algumas das simbologias da maçã.
Apesar de outros frutos estarem associados ao pecado original, como o figo e a uva, a maçã a partir do século XIII passou a ser a principal representação da transgressão de Adão e Eva no Éden.
A ingestão do fruto proibido significou a possibilidade de atingir o conhecimento através do livre-arbítrio, mas também levou ao sofrimento (a expulsão do local divino, a necessidade do trabalho e as dores no parto).

Em outras culturas, como a germânica, para obter a sabedoria o deus Wotan abdicou da visão de um dos olhos e ficou nove dias pendurado na árvore Yggdrasil sem comer ou beber.
A maçã também está ligada ao simbolismo da árvore, eixo do mundo, associada à cruz e a Cristo.
Como se acreditava que o conhecimento vinha do alto, uma metáfora era a arbor inversa, cujas raízes estão no céu, sendo Cristo o mais belo fruto enviado pelo céu (Deus) à terra (Maria).

Outro simbolismo da maçã é a de Insula Pomorum, reino do Outro Mundo repleto de abundância e prazeres, descrito por Geoffrey de Monmouth no século XII como local onde ao vez de grama o solo é coberto por maçãs.
Na mitologia céltica, esta fruta simboliza a magia, a imortalidade e o conhecimento.
Para os medievais era confortante o sentido da maçã como Ilha dos Bem-aventurados, possibilitando o acesso dos indivíduos num mundo semelhante ao paraíso e que se localizava paralelamente ao mundo terreno.
Já segundo à Igreja, só depois da morte e da passagem pelo purgatório, os indivíduos purificados poderiam aspirar à felicidade eterna.

Palavras-chave: Maçã, Adão, Eva, Mitologia Medieval, Geoffrey de Monmouth, celtas.
Key words: Apple, Adan, Eva, Medieval Mithology, Geoffrey de Monmouth, celts.



No quadro, aparece a tradicional visão da maçã como símbolo do pecado original.
Lucas Cranach, o Velho (1472-1553) nascido em Kronach, sul da Alemanha, adotou a mesma profissão do pai e foi um dos expoentes do renascimento alemão. Pintor da corte da Saxônia até 1550 e prefeito de Wittenberg em 1537, fez várias pinturas de Adão e Eva no Éden, da criação de Eva à Queda e expulsão.
Seus quadros davam grande importância à paisagem, que deixa de ser uma imagem fixa (SCHNEIDER, 1997). Cranach foi influenciado por Dürer (1471-1528), que pretendia chegar ao conhecimento das normas que regem a beleza do corpo humano e investigar as leis da perspectiva (LOPERA, 1995: 49).

Cranach dedicou-se além disso ao retrato e é considerado um pintor da reforma protestante por haver feito reproduções pictóricas de seus líderes, como Lutero e o duque Henrique da Saxônia. Também produziu várias cenas religiosas que ilustram a primeira edição do Novo Testamento, traduzido por Lutero em 1522.
Assim como Dürer, Cranach valorizou o nu, através de cenas mitológicas e religiosas com traços sensuais. Sua representação do primeiro casal humano segue a visão cristã medieval a respeito do pecado original.
Na imagem, Eva está próxima da serpente, o que a liga ao mal.
A atitude de Eva é delicadamente dissimulada, pois ela oferece uma maçã a Adão e oculta atrás de si outra maçã.
O ato de esconder sugere ao espectador uma intenção claramente maliciosa por parte de Eva. Quanto a Adão, o fato de olhar para a mulher e não para o fruto mostra que ele o aceita por estar seduzido: a postura de seu corpo, suas mãos segurando a maçã, mas principalmente seus olhos expressam o feitiço feminino agindo sobre o homem.
Eva é a culpada pelo pecado.
Os animais estão na cena como coadjuvantes à espreita.
A serpente, símbolo cristão maléfico por excelência, é a portadora da língua que levou Eva a desobedecer o Criador.
Por entre os arbustos, aparecem ainda um cervo e um leão.
A presença destes dois animais na cena representa a harmonia presente no Éden, que possibilitava o convívio pacífico entre um predador – o leão e sua presa – o cervo.
O cervo que se encontra próximo de Adão tem uma analogia com a árvore da vida.
Sua galhada é um símbolo de renovação cíclica, pois renova-se a cada ano.
Ele é um portador da luz, inimigo da serpente e representa Cristo (Cristo por sua vez é o segundo Adão, que vem ao mundo redimir as faltas do primeiro).
O leão simboliza a encarnação do poder.
É o animal mais representado na heráldica por estar associado ao valor e à força.
No século V d.C., o historiador latino Macrobius sugeriu que a imagem do leão denotava o presente, forte e ardoroso (MANGUEL, 2001: 74).
Por sua vez, Na Primeira Epístola de Pedro, o leão aparece como o símbolo do diabo: "vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um predador a rugir, procurando a quem devorar". (A Bíblia de Jerusalém, 1995, 1 Pd 5,8: 2276).
A simples presença dos animais nesta pintura não é suficiente para explicar seu sentido, sendo incorreta a associação Adão/cervo/bem e Eva/leão/mal.
Há uma outra representação do primeiro casal humano e destes animais na mesma posição feita por Cranach (1528, Galeria degli Uffizzi, Florença) e ainda uma terceira de 1533 com a posição invertida dos animais, isto é, o leão ao lado de Adão e o cervo próximo de Eva (Museum der Bildenden, Kunste, Leipzig).
Por isso, penso que a possível escolha destes animais pelo artista junto à representação de Adão e Eva indica essencialmente um fator de equilíbrio entre um animal feroz e um manso num ambiente paradisíaco.
Volto agora a preocupação principal deste artigo: a simbologia da maçã.
As línguas européias e também indo-européias usam uma palavra com a raiz de ap, ab, af ou av para maçãs ou macieira: aballo (céltica), apple (inglês), apfel (germânico), abhal (gaélico irlandês), afal (galês), iablokaa (russo) e jablko (polonês).
Com relação a pomme, o termo francês vem do latim pomum, que se referia originalmente a todas as frutas (Etymologically).
Em latim as palavras mal e maçã, malum, são escritas da mesma forma, sendo a originárias do grego, mélon.
A fruta possui um sentido ambíguo durante a Idade Média.
De um lado foi identificada como aquela que causou o pecado original.
Porém, também pode ter um significado positivo, pois desde o século XI a maçã nas mãos do menino Jesus e na de Maria significa uma referência à absolvição do pecado e à vida eterna (LURKER, 1997: 405).
Nesta imagem, também pintada por Lucas Cranach, Cristo menino segura em suas mãos pão e maçã.
A maçã simboliza o pecado original, já o pão (corpo de Cristo), a redenção.
A Virgem é considerada a segunda Eva, redimindo o pecado da primeira.
É possível ver nas duas pinturas, portanto, primeiro um sentido negativo da maçã, o do pecado, e em seguida um sentido positivo, o da salvação.

Meu objetivo neste artigo é justamente mostrar o significado múltiplo desta fruta durante a Idade Média.
É  importante ressaltar que a maçã é proveniente de uma árvore, elemento simbólico em várias culturas.
Devido ao fato de suas raízes mergulharem no solo e seus galhos voltaram-se ao céu, é considerada como representante das relações entre a terra (o microcosmo) e o céu (macrocosmo).
Tem o sentido de centro, e sua forma vertical faz a árvore do mundo ter sinônimo de Eixo do Mundo (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1995: 84), e está também relacionada à cruz da redenção, que na iconografia cristã é representada como a árvore da vida (CIRLOT, 1984: 99).
Sua verticalidade também liga-se à idéia de escada ou montanha.
Vários deuses da mitologia grega são associados a árvores: Júpiter (azinheira), Baco (videira), Apolo (louro).
No Apocalipse, a árvore da vida frutifica doze vezes, dando um fruto a cada mês (A Bíblia de Jerusalém, 1995, Ap 22,2: 2328), um símbolo de renovação cíclica.
Outro significado para o vegetal era a arbor inversa (árvore inversa) cujas raízes estavam no céu e os ramos na terra, simbolizando a fé e o conhecimento, e representando Cristo (GUREVITCH, 1990: 79).
Como pensava-se que a vida era extraída do alto e depois penetrava na terra, Cristo era tido como o mais belo fruto feito pelo céu (Deus) na terra (Maria) (LURKER, 1997: 282).
Na Bíblia existe menção a duas árvores, a árvore da vida, que confere a imortalidade e a árvore do conhecimento ou do bem ou do mal.
Para os germanos, a árvore da vida era o freixo Yggdrasil, com três raízes:
no Asgard, viviam os deuses,
em Jotunheim, os gigantes e
em Nifheim, os mortos.
Neste último local um monstro se abastecia dos cadáveres e mordia a própria Yggdrasil.
As raízes do Asgard eram regadas pelas Norns, deusas do destino.
Os primeiros humanos, Ask e Embla, também eram originários de uma árvore (o freixo) segundo a mitologia germânica, tendo recebido a vida através dos deuses.
A sabedoria representada pela árvore também provém do sofrimento.
Deus disse a Adão que se comesse da árvore do conhecimento iria morrer (Gn 2, 16-17), o que significava que ao adquirirem a capacidade de discernimento, os humanos passariam a ter uma vida de atribulações.
Assim, Adão e Eva comeram do fruto proibido e adquiriram o livre-arbítrio por seus atos, mas perderam a imortalidade e foram expulsos do Éden, passando a enfrentar vários tormentos, como a necessidade do trabalho para a obtenção do seu sustento “com o suor do rosto” e as dores enfrentadas pela mulher no parto (Gn 3, 16-19).
Na mitologia germânica, Wotan (ou Odin, deus dos mortos, da guerra, da magia rúnica e da poesia) pagou com um dos seus olhos para beber a poção do conhecimento da fonte de Yggdrasil (LURKER, 1993: 154).
Também ficou nove dias pendurado na árvore da vida sem comer ou beber para obter conhecimento e ao sair de lá era capaz de curar os doentes, cegar a espada dos inimigos e pegar um flecha em pleno vôo.

Outro símbolo associado à árvore e também à maçã é o coração, órgão central do corpo humano e simbolicamente centro do homem e do mundo (LURKER, 1997: 152).
Para Santo Agostinho o coração é o recipiente do amor divino e os homens devem procurar o conhecimento através do amor.
O coração é o rei do corpo, pois sem ele não há vida.
Pode-se por isso fazer uma analogia entre o coração e o monarca, considerado na Idade Média essencial para o bom funcionamento da sociedade.
Daí o dito: “o rei morreu, viva o rei”.
A monarquia era considerada neste período como forma ideal de governo (LE GOFF, 1999: 356-359) e havia várias teorias afirmando que os súditos deveriam obedecer ao soberano, mesmo se ele não fosse bom.
São Tomás de Aquino, por exemplo, em Sobre o Governo dos Príncipes, afirmava que mesmo se o rei fosse um tirano, a população deveria rezar para que ele se tornasse bom: “em seu poder [de Deus] está converter à mansidão o coração cruel do tirano” (COSTA, 2000: 115).

Na mitologia grega, a maçã ocupa um papel importante.
Pode ser um elemento desagregador, como o pomo da discórdia atirado pela deusa Éris, com a inscrição “à mais bela”, que levou à disputa entre as deusas e conseqüentemente à Guerra de Tróia.
Afrodite prometeu a  Páris dar-lhe o amor da mais bela mortal se ele entregasse a esta deusa o pomo.
Como cumprimento da promessa da deusa, Helena, casada com o troiano Menelau foi raptada por Páris, dando início ao conflito entre gregos e troianos que durou dez anos (GRIMAL, 2000: 355-356; COTTERELL, 1997: 68-69).
O pomo também pode significar um atributo dos deuses como as maçãs de ouro do Jardim das Hésperides, originalmente um reino do Além (LURKER, 1997: 15) guardado por um dragão.

As maçãs simbolizam a imortalidade e tinham sido presentes de casamento recebidos por Zeus e Hera.
Mesmo quando Hércules conseguiu pegar alguns pomos como parte de seus Doze Trabalhos, estes foram devolvidos ao jardim dos deuses por representarem um atributo deles.
A maçã de ouro também foi um elemento positivo para garantir a união entre Hipômenes e Atalanta.
O jovem jogou três frutos durante uma disputa com Atalanta; se vencesse a corrida casaria-se com ela, se perdesse, seria morto.
Graças aos pomos dourados, que distraíram a atenção da moça, o jovem venceu a donzela e as bodas se realizaram.

Para os povos germânicos, a maçã também significa a imortalidade, representada pela deusa Idun (a rejuvenescedora).
Ela guardava uma maçã numa taça e quando os deuses ficavam velhos mordiam a maçã e encontravam a juventude (GUREVITCH, 1990: 119).
Numa ocasião, porém, a deusa e seus pomos de ouro foram raptados por um gigante, o que deu início ao envelhecimento dos deuses do Asgard.
Com o resgate de Idun pelo deus Loki, todos readquiriram a juventude (LURKER, 1993: 97).

Durante o período medieval, outras frutas também foram associadas ao pecado original, como a uva e o figo.
A figueira na Grécia era consagrada à Atena e seus frutos sagrados não podiam ser exportados. Em Roma possuía um sentido erótico e era associada a Príapo.
Na Bíblia, após comerem o fruto proibido, Adão e Eva descobriram que estavam nus e cobriram-se com folhas de figueira (Gn 3,7).
O figo está relacionado ao fígado, principal órgão dos sentidos para os gregos, sendo a figueira usualmente considerada local de contemplação.
Por isso, ao transgredir o decreto dos deuses e fornecer o fogo aos homens, Prometeu foi condenado a ter seu fígado eternamente comido pela águia (animal ligado aos deuses), podendo-se estabelecer um paralelo entre a transgressão de Adão na cultura judaico-cristã e a de Prometeu na greco-romana, pois ambos teriam simbolicamente roubado a sabedoria do mundo divino (FRANCO JR., 1996: 57).
O figo também aparecia em representações de bacanais, e o seu interior assemelha-se ao órgão sexual feminino.

A uva era outra fruta associada à transgressão de Adão e Eva, relacionando-se à fertilidade e ao sacrifício (CIRLOT, 1984: 590).
Seu significado está ligado ao sangue e, por isso, à Paixão de Cristo.
Para os medievais, a ato de comer era sagrado e indiretamente ao beber o vinho e comer a hóstia comiam Deus, morto para redimi-los do pecado.

A partir do século XIII, a maçã passou a ocupar o principal lugar como fruto proibido.
A uva era uma fruta em grande abundância em várias regiões européias e daí a substituição pela maçã por motivos econômicos.
Um exemplo da relevância da vinha é sua constante representação nos calendários, associada às atividades agrícolas, estampada nos meses de abril (poda da vinha), setembro (colheita) e outubro (preparação do vinho).

Entre as populações de origem céltica, a maçã representa o conhecimento, a revelação e a magia. Existem vários relatos referentes às viagens célticas ao Além, os imrama, nos quais um herói é atraído por uma fada, que lhe entrega um ramo de maçã e o convida para ir para o Outro Mundo, como em A Viagem de Bran, Filho de Febal.
Num outro imrama, A Viagem de Maelduin, que trata da busca do herói pelos assassinos de seu pai, ele passa por uma ilha onde encontra uma macieira e dela corta um ramo com três maçãs. Estes frutos são capazes de saciar a sua fome e a de seus companheiros por quarenta dias sem ingestão de qualquer outro alimento (MARKALE, 1979: 246).
Numa outra narrativa céltica, Condle, filho de Conn, herói das cem batalhas também é alimentado por maçãs que nunca diminuem sua quantidade (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1995: 573). Na mitologia desses povos, a maçã está ligada a um espaço específico: a Ilha dos Bem-Aventurados, Avalon, local de abundância e imortalidade.

Os gregos já imaginavam essas ilhas com um clima ameno e aprazível, cercadas por árvores frutíferas e fontes para onde os heróis eleitos se dirigiam sem sofrer a morte (LURKER, 1997: 337).
Mais tarde, Isidoro de Sevilha deu maiores descrições destas regiões, ressalvando, no entanto, que não correspondiam ao paraíso terrestre, o qual, de acordo com a concepção cristã, localizava-se em algum lugar da terra no Oriente, sendo inacessível aos humanos.
Na Baixa Idade Média, o conceito de Ilha Afortunada de Isidoro fundiu-se com a noção da Ilha Céltica de Avalon (DELUMEAU, 1994: 123).
Tal como a árvore, a ilha tem o significado de centro e sua forma circular representa a perfeição. Sua localização isolada e de difícil acesso garante que só os escolhidos podem alcançá-la após uma viagem iniciática, na qual passam por outras ilhas e enfrentam perigos até chegar ao seu destino.
Existe uma analogia entre a Terra das Fadas, os reinos utópicos, como o País da Cocanha e o Éden bíblico.
Todos estes locais são caracterizados pela abundância, fertilidade e inexistência do trabalho humano.
Veremos mais tarde algumas diferenças na passagem dos eleitos por estes locais.
Avalon, a Ilha das Maçãs (Insula Pomorum) era, de acordo com as descrições da Vita Merlini de Geoffroy de Monmouth (século XII) uma ilha tão abundante que ao invés de grama o chão era coberto por frutos:
La isla de los Frutos, que llaman Afortunada, bien puesto tiene el nombre, que de todo produce por sí sola. Pues no ha menester esta isla de labriegos que aren sus campos: no hay allí ningún cultivo, todo lo da espontáneamente la naturaleza. (...) De todo da su suelo en extrema abundancia, frutos en lugar de grama. (GEOFFREY DE MONMOUTH, 1994: 32)
A primeira menção latina a esta ilha paradisíaca ocorre em outra obra de Geoffrey, a Historia Regum Britanniae, na qual é nomeada como lugar onde fora forjada a espada Caliburn do rei Artur (GEOFFROY DE MONMOUTH, 1993: 208).
Também é o local para onde o monarca é levado após a Batalha de Camlan contra Mordred, para curar seus ferimentos, sem que a obra cite se Artur retornará ou não (GEOFFROY DE MONMOUTH, 1993: 258).
Em outros relatos ficamos sabendo que lá ele será curado ou ficará em sono profundo até poder retornar um dia.
Avalon era governada por Morgana e suas nove irmãs, que também possuíam o dom da imortalidade.
Por isso, Avalon está associada a Caer Siddi (Outro Mundo) ou Annwn, a Terra dos Mortos e da Eterna Juventude.
Existia em Caer Siddi uma fonte onde jorrava vinho doce e onde envelhecimento e doença eram desconhecidos (ELLIS, 1992: 25).
Entre os seus tesouros havia um caldeirão mágico, tema diretamente ligado à abundância existente na Ilha das Maçãs.
Na mitologia céltica existem dois tipos de caldeirão: o caldeirão do renascimento e o caldeirão da abundância.
Dagda, pai de todos os deuses, possuía um caldeirão proveniente da cidade de Múrias.
Ao provar dele ninguém passava fome (ELLIS, 1992: 77).
Matholwch recebera o caldeirão do renascimento do deus Bran e com ele era possível ressuscitar um morto, que no entanto, perdia a capacidade de falar (Mabinogion, 1988: 31).
No poema galês Preiddeu Annwn (Os Despojos do Outro Mundo), composto entre os séculos VIII e IX, o rei Artur e seus companheiros tentam inutilmente buscar numa expedição o caldeirão da abundância, representante da realeza e autoridade (ELLIS, 1992: 26).
Segundo o poema contido no Livro de Taliesin:
“e quando fomos com Artur (...) exceto sete, ninguém voltou da Fortaleza da Intoxicação (....)” (KOCH, 1995: 290).
O  Outro Mundo á assim chamado no relato porque lá o vinho com fagulhas era bebida corrente (ELLIS, 1992: 25), o que podia estar ligado à intoxicação.
Outros adjetivos  usados em relação ao Além Céltico na mesma obra são: Fortaleza do Temor, Fortaleza Oculta e Fortaleza do Divino Lugar. (KOCH, 1995: p. 291).
Havia ainda um terceiro caldeirão entre os celtas, o caldeirão do sacrifício, no qual os maus monarcas eram jogados.
É possível observar aqui um sentido totalmente diferente dado à figura régia, que tem principalmente a tarefa de estabilizar a sociedade e que é descartada quando não cumpre bem suas funções.
O monarca é mais um “moderador ou distribuidor de riquezas que um detentor de poderes civis e militares”.
Representa um garantidor da abundância, sendo o rei que sobrecarrega os súditos de impostos sacrificado, afogado numa tina de cerveja ou hidromel (LE ROUX e GUYONVARC’H, 1993: 63).
O tema do caldeirão mais tarde, deu origem ao mito do Graal, inicialmente nas obras de Chrétien de Troyes.
Com a sua cristianização em fins do século XII, o conteúdo do cálice passou a ser o sangue de Cristo na cruz. Sangue, conhecimento, alimento.
Em A Demanda do Santo Graal quem provasse do Santo Vaso obtinha satisfação material e espiritual.
A revelação, isto é, conhecimento, obtido por Galaaz através do graal deu lugar a tal iluminação que ele ascendeu aos céus junto com os anjos (ZIERER, 1999: 124-125).
É importante ressaltar os desdobramentos da maçã como representante da Ilha Paradisíaca e o destino dos heróis ao empreenderem uma viagem iniciática ao Outro Mundo.
No relato céltico A Viagem de Bran, o herói é atraído por uma fada que canta e lhe joga um ramo de maçã.
Ele e seus companheiros a seguem, atingindo a Ilha da Mulheres (Tír na mBan).
Num período que parece ser de pouco mais de um ano, um dos seus companheiros sente saudades da Irlanda e Bran decide voltar apesar de ser advertido de que muito tempo se passara. Com efeito, ao chegarem à terra natal, um deles se torna pó ao pisar no solo.
Com relação à passagem dos eleitos pelo local paradisíaco, no caso de Bran o herói fica preso. Assim como encontra um espaço de prazeres, imortalidade e abundância, ele também não tem como sair de lá.
Com a sua fuga, não consegue retornar nem ao antigo lar, devido ao processo de envelhecimento, nem à Tír na mBan porque acaba por perder-se no meio do mar, vagando no oceano sem reencontrar o País das Fadas.
Num outro relato sobre uma viagem ao Outro Mundo, ainda que não diretamente relacionado à maçã, mas à abundância existente na Ilha das Mulheres, o fabliaux O País da Cocanha, o poeta se lamenta por não conseguir voltar ao lugar utópico após ter saído dali para buscar um amigo (FRANCO JR., 1998: 33-35).
Neste caso, o protagonista após a sua aventura, ficou preso no mundo terrestre.
Ele consegue retornar ao mundo terreno porque a garantia da eterna juventude na Cocanha era uma fonte ao passo que no País das Fadas, a simples permanência naquele local garantia a juventude, mas sua saída de lá resultava também num envelhecimento imediato de centenas de anos.
Numa terceira narrativa sobre uma viagem ao Além, o Laís de Guingamor, o herói é mais afortunado: consegue retornar ao local paradisíaco.
Influenciado pela temática céltica, a aventura principia-se num ambiente cortês, mas leva o cavaleiro a um espaço desconhecido quando ele tenta matar um javali branco.
De repente, ao atravessar um rio, ele chega ao Outro Mundo.
Passado um tempo de prazeres, resolve voltar para cumprir sua missão como nobre e entregar o animal caçado apesar de as fadas lhe avisarem que no mundo terreno já havia transcorrido trezentos anos (FRANCO JR., 1996: 126-127).
Guingamor retorna ao seu mundo, depois de ser advertido que nada poderia comer ali, fato que ele esquece e acaba por ingerir três maçãs.
Em seguida sente-se muito enfraquecido e quase morre, sendo resgatado pelos seres do Outro Mundo que o levam de volta.
Mais uma vez aparece numa narrativa o teor da maçã como fruto do conhecimento, ao comê-la o corpo do cavaleiro toma ciência do prolongado período que havia se passado.
Da mesma forma que o ocorrido com Adão e Eva, ao comer o fruto proibido o herói perdera a imortalidade.
Guingamor apesar de ter comido três maçãs e quase morrer, tem um destino feliz, as fadas voltam para buscá-lo talvez porque o alimento por ele ingerido na terra dos mortais fossem maçãs, fruto diretamente associado ao Outro Mundo.
Já o poeta da Cocanha ficou preso no espaço terrestre e Bran perdido no mar, sem conseguir retornar nem ao mundo terreno nem ao Além.
O tema da ilha paradisíaca foi depois cristianizado.
O eleito, agora um monge, consegue cumprir a sua missão e retornar ao mundo dos humanos, para logo depois morrer e atingir o paraíso (ZIERER, 2001: 41-51).
Em lugar da Ilha dos Bem-Aventurados, desenvolve-se a trama do monge que atinge o paraíso terreal com o auxílio de uma mulher, como, por exemplo, Santo Amaro, numa versão portuguesa quatrocentista de A Viagem de São Brandão.
Após uma viagem de sete anos e de vagar por diversas ilhas, o santo consegue chegar a uma ilha de onde recebe de uma religiosa, Valides, a indicação para atingir o paraíso terreal.
Aqui é possível ver uma conotação positiva da figura feminina, associada à Virgem Maria.
Em várias outras representações, porém, a mulher era associada à Eva, considerada a causadora da expulsão do Éden, e relacionada ao fruto proibido e à serpente, conforme mostrei na pintura de Adão e Eva de Lucas Cranach.
O santo não consegue penetrar no paraíso terrestre, mas visualiza o seu interior, tendo a possibilidade de trazer um pouco da terra deste local, com a qual funda uma nova e próspera cidade.
Santo Amaro volta ao mundo humano, mas unicamente com a função de contar as maravilhas do que presenciara e logo depois morrer para retornar ao paraíso.
Dentre as descrições do paraíso terreal ele vê uma macieira (A Vida de Sancto Amaro, 1901: 517).
Destaca-se também o fato de durante todo o período da viagem os alimentos que Santo Amaro recebe são enviados do céu por Deus, podendo-se fazer uma relação entre a maçã céltica que saciava e nunca se esgotava e os alimentos provenientes do Criador que alimentaram Amaro e seus companheiros por sete anos.
A propósito da temporalidade do Outro Mundo representada pela Insula Pomorum, é interessante observar que a passagem do tempo não é percebida pelos humanos que para lá vão, como pode ser visto nos relatos sobre Bran, Guingamor e Santo Amaro.
Ao passo que na concepção cristã, o tempo dos castigos, passado no purgatório ou no inferno, é o triplo do tempo terrestre (LE GOFF, 1993).
Por isso, ressalto que mesmo para os medievais (e para nós também) o tempo dos prazeres é fugaz e o dos tormentos muito longo.
Conclusão
Como demonstrei, no período medieval a maçã possui um sentido multifacetado.
Fruto proibido, levou os homens ao sofrimento e ao conhecimento, que segundo Santo Agostinho, deveria ser obtido através do amor.
Para os homens da Igreja, a sapientia era uma prerrogativa deles, na medida em que, por estarem afastados do ato sexual, eram mais puros e totalmente voltados a Deus.
Vistos como os intérpretes da palavra sagrada e da verdade, os oratores consideravam que sua proximidade com o mundo divino os autorizava a controlar o resto da sociedade, procurando assim estabelecer normas que garantissem aos vivos a futura entrada no paraíso.
Porém, os relatos medievais apresentavam outros tipos de paraíso e outras vias, como as seguidas por Bran, Guingamor ou pelo poeta da Cocanha.

A maçã também possui um significado curioso com relação à figura feminina.
De um lado representa o mal e o pecado, através da ingestão do fruto proibido por Eva, que levou os medievos ao desprezo e à desconfiança com relação aos seres deste sexo.
As mulheres eram usualmente vistas como mentirosas, tentadas ao adultério e inclinadas à luxúria e ao demônio.
A salvadora dessas mulheres seria Maria, a virgem escolhida pelo Criador para gerar um homem perfeito, Jesus, o filho de Deus, que sacrificou-se para redimir os pecados da humanidade. Próxima ao modelo de Maria estava Valides, capaz de, através de sua pureza, indicar a um eleito de Deus, Santo Amaro, o caminho do paraíso terreal.
Uma outra imagem feminina era a das fadas, mulheres que habitavam a Insula Pomorum, e que competiam no plano simbólico com a Igreja com relação ao domínio do sagrado, pois, segundo as narrativas, possuíam a sabedoria, o dom da cura e da imortalidade.
O sentido da maçã como representante da Ilha Paradisíaca levou muitos a sonharem com a terra da abundância, da imortalidade e felicidade, que poderia ser encontrada num mundo paralelo em algum lugar misterioso: uma ilha no meio do oceano, um lugar na floresta.
Para o clero, no entanto, só depois da morte e da passagem pelo purgatório, os indivíduos purificados poderiam aspirar à felicidade eterna.


A idéia de escrever este artigo foi inspirada pela conferência do medievalista Hilário Franco Jr. realizada em 1999 no III EIEM (Encontro Internacional de Estudos Medievais), intitulada Entre o figo e a maçã: hesitações medievais quanto à concepção do fruto proibido e devido à recorrência da maçã nas fontes que pesquiso atualmente. Esta fruta também evoca o simbolismo da árvore, fundamental para as culturas céltica e germânica, as quais venho pesquisando atualmente através do BRATHAIR - Grupo de Estudos Celtas e Germânicos, cuja formação iniciou-se durante o III EIEM (evento organizado pela ABREM - Associação Brasileira de Estudos Medievais).


Fontes
A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 1995.
GEOFFREY DE MONMOUTH. Vida de Merlin (trad. Lois Pérez Castro). Madrid: Siruela, 1986.
GEOFFROY DE MONMOUTH. Historia Regum Britanniae (Histoire des Rois de Bretagne). (traduite et comenté par Laurence Mathey-Maille). Paris: Les Belles Lettres, 1993.
Mabinogion (ed. de Victoria Cirlot). Madrid: Siruela, 1988.
The Voyage of Bran, Son of Febal to the Land of the Living (ed. de Kuno Meyer). Londres: Nutt, 1895-1897, 2 vols.
A Vida de Sancto Amaro (ed. Oto Klob). Romania, 30, 1901, pp. 504-518.
 
Obras Citadas
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COTTERELL, Arthur. Classical Mythology: The Ancient Myths and Legends of Greece and Rome. New York: Smithmark, 1997.
CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1995.
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SIMBOLOGIA DA MAÇÃ

Enviado pelo Ir.: Milton C. Lopes

Um detalhe interessante sobre a famosa Academia de Crotona, na Sicília, fundada por Pitágoras, diz respeito aos métodos de reconhecimento entre os membros do “círculo interno”, aqueles que tinham acesso aos conhecimentos esotéricos e desfrutavam da intimidade do grande filósofo.

Como é sabido, os pitagóricos viam os números como a expressão da própria natureza, e cultivavam uma paixão pela geometria sagrada.

Dentre as figuras que Pitágoras considerava perfeitas, o pentagrama (a estrela de cinco pontas, a mesma “sba” do antigo Egito, a “estrela-cão”) era sua preferida.

Para ele, nela se poderia ler TODAS as relações matemáticas que informam o Universo, inclusive a celebrada razão áurea.

Essa figura está presente na natureza em incontáveis manifestações, a mais comum sendo vista nas flores das árvores frutíferas.

Na literatura maçônica, na ocultista e mesmo na cristã, católica, muçulmana, a Estrela de Cinco Pontas está presente há milênios.

Na arquitetura, as catedrais góticas são uma prova inconteste de uma aplicação prática da ciência sagrada, sendo os arcos botantes, as rosáceas e os arcos ogivais uma materialização em pedra das relações matemáticas existentes no pentagrama.

Os iniciados de Crotona usavam o pentagrama como um talismã ou amuleto e como sinal secreto de reconhecimento.

Aqui há que se fazer uma pequena digressão, para irmos à Biblia, ao Pentateuco.

Ali, no Gênesis, se lê que Deus vedou ao homem, a Adão e Eva, o acesso à Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, ou simplesmente Árvore do Conhecimento.

E que árvore era essa?

Para muitos teólogos, era a Macieira, abundante na bacia do Mediterrãneo e em todo o Oriente Médio, cujo fruto é um dos que melhor se conservam após colhidos e que é, acredita-se, a primeira árvore cultivada pelo homem..

A maçã aparece nas mitologias grega e romana em lugar de destaque em várias passagens.
Hércules colheu o Pomo de Pouro (nada mais que uma maçã dourada).

Não por acaso a lenda em torno da descoberta da Lei da Atração Universal (a gravidade) coloca Isaac Newton embaixo de uma macieira...

Em 1717, ao mesmo tempo em que Newton se reunia na Royal Society quatro lojas fundavam a Grande Loja de Londres (hoje GLUI); uma delas foi a “Apple Tree”.

Pois bem:

Nas palestras que faço sobre Simbolismo, costumo motivar a audiência tomando uma maçã e uma faca e pedindo a algum presente que corte a fruta ao meio, ficando com uma metade e dando a outra para mim.

Invariavelmente, eis o que recebo:




(Observem que o núcleo da fruta ssim partida se apresentacom uma clara identificaçãocom a imagem de uma vulva,o que nos permite entendermelhor a associação com Eva e o lado feminino da natureza.)


Mas não é essa imagem que estou buscando.

Nessa altura, eu tomo uma outra maçã e explico aos assistentes que, se a pessoa que me ajudou fosse um iniciado da Academia de Pitágoras e o mestre lhe pedisse que comprovasse essa condição por meio de um sinal particular, mas sem gestos ou palavras, ele simplesmente partiria a maçã AO LONGO DE SEU EQUADOR...

Se fizesse isso, eis a figura que apareceria:

 














E, para os que não tiveram ainda a oportunidade de ver uma macieira florida, eis o pentagrama já presente na flor, o mesmo que vai se manifestar no fruto:


Notaram a semelhança com nossas representações  da “Estrela Flamígera”?


Mas o segredinho que quero partilhar com vocês é que essa estrutura está presente em praticamente todos os frutos (como de resto em toda a natureza).

Para exemplificar, vejam outra fruta tão cara aos maçons: a romã (“pomegranate”).
 Todos estamos habituados a ver a imagem da fruta aberta no sentido longitudinal, com a familiar imagem vulvar:


Mas quantos já tiveram a curiosidade de saber como se apresenta essa mesma estrutura se cortada em outro plano, ao longo do “equador” da romã?  
Mais uma bela estrela, ... mas de 6 pontas...

Creio que agora você pode voltar à cozinha e começar a cortar TODAS as frutas que encontrar segundo os dois planos, longitudinal e transversal, e comparar as estruturas resultantes. 

A natureza é sábia, e conhece geometria...

Apenas tome cuidado com a cunhada, que pode não gostar ...


Maçã

É um símbolo complexo com uma variedade de significados e incorporados a uma variedade de contextos.
Pode significa amor, conhecimento, sabedoria, alegria, morte e luxúria.
Pode ter uma associação erótica com os seios da mulher,ou com ela partida ao meio representando a vulva.
Ver uma maçã crescendo em uma árvore simboliza sabedoria e grande prosperidade.
Recompensas vantajosas estão garantidas a você.
Sonhar comendo uma maçã denota harmonia, prazer, e fertilidade.
No sentido bíblico, comer maçã simboliza seu apetite sexual, desejos de luxúria e consciência sexual associadas à maçã do Jardim do Éden que é um símbolo de tentação e do pecado original.
Ver maçãs verdes representa desenvolvimento no amor ou um amor que ainda vai florescer.
Um maçã podre ou mordida denota que você pode não ser atendido naquilo  que você está se esforçando.
Na Mitologia Grega a maçã aparece repetidamente: Hera recebendo uma maçã como símbolo da fertilidade em seu casamento com Zeus.
Em termos seculares, a maçã funciona como um símbolo do cosmos ou totalidade, por causa de sua forma esférica quase perfeita


Ao longo a História, a maça vermelha esteve sempre carregada de uma grande simbologia.

É o fruto mais antigo do mundo, e a ela estão associadas várias histórias.

No seu Terceiro livro das Odes, o autor latino-americano, Pablo Neruda, elogia o mais antigo fruto do mundo, e joga com a sua forte simbologia.
Os últimos versos do poema são reveladores :
"Quero ver toda a população do mundo unida, reunida, no acto mais simples da terra: trincar uma maçã. " www.poemas-del-alma.com


Segundo Paul Diel, a maçã, por sua forma esférica, significaria os desejos terrestres ou a complacência em relação a esses desejos.
Sem dúvida, essa interpretação é verdadeira e explica um dos aspectos do simbolismo da maçã em Branca de Neve.

Mas, desde a maçã de Adão e Eva até o pomo da Discórdia, passando pelo pomo de ouro do jardim das Hespérides, encontramos, em todas as circunstâncias, a maçã como um meio de conhecimento.

Ela está carregada de duplicidade pois, ora é o fruto da Árvore da Vida que está no meio do Paraíso e ora é o fruto da Árvore da Ciência do bem e do mal que, paradoxalmente, lá também se encontra.
Pode ser, portanto, conhecimento unificador que confere a imortalidade ou conhecimento desagregador que provoca a queda.

Se examinamos o seu simbolismo, também, desde o ponto de vista de sua estrutura física, podemos constatar novamente essa duplicidade característica dos meios de conhecimento.

Assim, ela é símbolo do conhecimento, pois um corte feito perpendicularmente ao eixo do pedúnculo nos revela que, no seu íntimo, está um pentagrama, símbolo tradicional do saber, desenhado pela própria disposição das sementes.
Por outro lado, o pentagrama é também um símbolo do homem-espírito e desde esse ponto de vista ela indica, ao mesmo tempo, a involução do espírito dentro da matéria carnal.

 Desde que começou a ser cultivada pelo homem, há pelo menos três milênios, a maçã transformou-se em um dos mais conhecidos símbolos do amor.

Mas sua imagem sempre esteve igualmente associada à saúde.
Reza uma lenda que o mítico Hércules, famoso por sua incrível força, alcançou a imortalidade após comer uma maçã sagrada.

E conta-se que os pais da medicina antiga, os gregos Hipócrates e Galeno, atribuíam à maçã grandes qualidades digestivas, fazendo nascer assim o costume até hoje arraigado de ingerir frutas frescas ao final das refeições





Branca de Neve e os sete pecados capitais

6 ago 2008 | por Marcelo del Debbio em Teoria da Conspiração às 17:03

Olá crianças,
“Uma vez, no auge do inverno, quando flocos de neve caem como plumas das nuvens, uma rainha estava sentada à janela de seu palácio, costurando as camisas de seu marido.
Nisto, levantou os olhos, espetou um dedo e caíram gotas de sangue na neve.
E vendo o vermelho tão bonito sobre o branco, a rainha pensou
:– Queria ter uma filha tão alva quanto a neve, tão vermelha como este sangue e tão negra como o ébano desta janela.
Pouco tempo depois lhe nasceu uma filha que era branca como a neve, vermelha como o sangue e com uns cabelos negros como ébano.
 Por isso lhe puseram o nome de Branca de Neve.
Mas, quando ela nasceu, a mãe morreu…”



Assim começa um dos mais famosos contos de fadas para crianças… mas será mesmo que a Branca de Neve foi escrito originalmente como uma inocente conto para colocar pequerruchos insones na cama?
Acompanhe a versão original e o simbolismo profundo por trás de um dos contos favoritos do tio Marcelo, e também do tio Walt Disney.

Logo de saída, a história de Branca de Neve nos indica que o ponto de vista a ser tomado para entendê-la mais profundamente é, sem dúvida, o iniciático.
Chama atenção que o personagem central, Branca de Neve, sintetize em si as três cores que simbolizam, no Hermetismo, as três etapas da prática espiritual estabelecida por aquela doutrina: o negro, o branco e o vermelho, que correspondem respectivamente, ao Nigredo, Albedo e Rubedo dos alquimistas.
Além disso, os sete anões, que trabalham numa mina buscando ouro, são uma clara alusão a outro aspecto do simbolismo alquímico, que nos informa ser a meta do alquimista a transformação dos metais impuros em ouro.
Não é também por acaso que a história se divide claramente em três partes.

Na primeira, Branca de Neve vive no castelo comandado pela rainha má desde o nascimento (Malkuth) até quando foge do caçador pela floresta;

na segunda, vive na casa dos sete anões até se engasgar com a maçã envenenada;

na terceira, vive no castelo do príncipe unida com ele, “felizes para sempre”.

É evidente aqui a aplicação do simbolismo do número três aos graus do conhecimento e, por extensão, às três fases da realização na via espiritual.
A essência e o objetivo da via espiritual iniciática é a união com Deus.
Essa união só é possível porque ser homem é sê-lo à imagem e semelhança de Deus.
O mito de Adão (Hochma) e Eva (Binah) nos ensina que, depois da queda, este aspecto essencial do humano tornou-se ineficiente.
Por isso, toda e qualquer tentativa de reintegração da forma humana no seu Arquétipo infinito e divino, (a tal da volta ao Paraíso), só é possível se antes for regenerada à pureza do estado original humano.
Por conta disso, chegamos à máxima alquímica da “transmutação do chumbo em ouro”, que nada mais é do que a reintegração da natureza humana na sua nobreza original.
Comparando a história da Branca de Neve com a mitologia Bíblica, de modo análogo ao relato do Gênesis, o conto diz que, no princípio, viviam em harmonia complementar um par de opostos, o Rei e a Rainha-Mãe boa. (novamente: Adão e Eva primordiais, ou Hochma e Binah, além do Abismo).
Com a morte da Rainha-Mãe e após o nascimento de Branca de Neve instaura-se um desequilíbrio, uma espécie de afastamento da unidade, que é representado pela chegada da rainha má (o Demiurgo).
Assim, depois da morte da mãe, Branca de Neve perde sua dignidade de princesa no castelo do pai e se torna uma serva da madrasta má.
Branca de Neve, apesar de ter a marca das três cores, que a qualifica como um ser especial, cai numa função subalterna dentro do mundo profano, marcado pela dualidade, pela dispersão, pelas paixões e dominado pela rainha má (que simboliza ao mesmo tempo as paixões vis e a Igreja dogmática).
O conto nos mostra que é necessário reunir em si o disperso, reintegrar-se em retiro além da floresta e nas montanhas, para depois se unir ao Espírito, que aqui é sem dúvida figurado pelo Príncipe (Tiferet, ou o espírito Crístico).

A rainha madrasta descobre que Branca de Neve é a mais bela quando esta última faz sete anos.
A rainha má é obcecada com a comparação quantitativa do aspecto estético (beleza física) e, portanto, apenas sensorial da realidade (Malkuth, a Matrix… vocês entenderam…).
Ela é incapaz de perceber qualquer beleza interior.
A unidade do belo, do bem e da verdade que todas as tradições religiosas e filosóficas sérias proclamam não existe na rainha má, por causa de uma concentração exagerada da inteligência dela no aspecto mais externo da realidade material (a ciência).
No íntimo do ser humano, o bem é bonito e o belo é verdadeiro. Significativamente, e por compensação, a rainha má manda um caçador matar Branca de Neve e trazer-lhe o coração, para que ela o coma.

O coração, que no simbolismo astrológico e cabalístico é representado pelo Sol, e no alquímico pelo ouro, é considerado, nas mais diversas tradições, a morada do espírito, o centro (anatômico e simbólico) do ser onde habita o divino.
No entanto, o coração que a rainha come (ou que ela pode comer) é o de um animal, que o caçador compadecido sacrifica no lugar de Branca de Neve.
Consciente, daí por diante da enorme ameaça de destruição existente no mundo da rainha, e insatisfeita com ele, a alma qualificada (Yesod) foge correndo pela floresta.
Sua vida acaba num mundo e se inicia em outro.
Mas, essa iniciação não acontece antes que ela passe por uma provação que se revela, no fundo, uma purificação.

A floresta e as provas antes da iniciação
“A pobre Branca de Neve ficou sozinha, e transida de dor se pôs a caminhar, no escuro da floresta, por entre as árvores sem saber que rumo tomar.
De repente começou a correr assustada com o barulho dos trovões, com o clarão dos relâmpagos e com a chuva que começava a cair.
Correu saltando pedras e atravessando sarças; e os animais selvagens pulavam quando ela passava, mas não lhe faziam mal Ela correu até seus pés se recusarem a continuar, e como já era noite e viu uma choupana ali perto, entrou nela para descansar.
Na choupana era tudo muito pequeno, porém nada podia ser mais limpo ou mais gracioso.
No centro, via-se uma mesa coberta com uma toalha branca, e nela estavam sete pratinhos, cada um com sua colher, sua faca e seu garfo; havia também sete copinhos do tamanho de dedais.
De encontro à parede se viam sete pequenos leitos, numa só fileira cobertos, cada um deles, com lençóis brancos como a neve.”

O texto parece sugerir que as provações iniciáticas são ritos preparatórios da iniciação propriamente dita.
Elas representam uma preparação necessária, de tal forma que a iniciação mesma é como se fosse sua conclusão ou seu fim imediato.
É bom lembrar que elas tomam a forma de viagens simbólicas em certas tradições (maçonaria, rosacruz, druidismo, wicca) e podem mesmo se apresentar como uma busca ou procura, que conduz o indivíduo das trevas do mundo profano para a luz da iniciação.
No fundo, as provações são essencialmente ritos de purificação; e essa é a explicação verdadeira para essa palavra num sentido claramente alquímico.
A corrida de Branca de Neve pela floresta representa de modo muito preciso exatamente isso: uma viagem do mundo profano – figurado pelo castelo da rainha má, que é um mundo de maldade e mentira, o reflexo da mentalidade dela mesma – até o local claro, limpo e protegido, nas montanhas, onde se localiza a casa dos sete anões.
É uma viagem do mundo exterior para um outro interior, onde ela vai encontrar e aprender a lidar com as sete faculdades de conhecimento corporal que estão esquecidas no mais íntimo dela mesma (os tais sete pecados capitais).
A chuva que aparece na nossa história mostra que o essencial nos ritos de purificação é que eles operam pelos “elementos”, entendidos no sentido cosmológico do termo, pois que elemento implica em ser simples; e dizer simples é o mesmo que dizer incorruptível.
A água é um dos elementos mais usados nos ritos de purificação de quase todas as tradições (ver batismo egípcio, pela qual até mesmo Yeshua passou, e o batismo copiado em todas as tradições católicas/cristãs/essênias).
Talvez porque ela simbolize a substância universal.
Notem a presença da limpeza e da cor branca na casa dos anões, indicadoras de que, depois da corrida pela floresta, a purificação se completou.
A casa dos anões é o Plano Mental, na qual todas as batalhas pela evolução do ser serão travadas até a conclusão do conto.
“Depois, estava tão cansada que se deitou numa das camas, mas não se sentiu à vontade.
 Experimentou outra e era muito comprida; a quarta era muito curta; a quinta dura demais; porém, a sétima era exatamente a que lhe convinha, e metendo-se nela se dispôs a dormir, não sem antes ter-se encomendado a Deus.
 Quando era noite regressaram os donos da choupana.
Eram os sete anões que sondavam e perfuravam as montanhas em busca de ouro.
A primeira coisa que fizeram foi acender sete pequenos lampiões, e imediatamente se deram conta – depois de iluminada toda a habitação – de que alguém havia entrado ali, já que não estava tudo na mesma ordem em que haviam deixado. (…) observando seus leitos gritaram:
 – Alguém deitou nas nossas camas!
Mas, o sétimo anão correu à dele, e vendo Branca de Neve dormindo nela, chamou os companheiros que se puseram a gritar de assombro e levantaram seus sete lampiões iluminando a menina.”

Depreende-se desse trecho da história que, desde o ponto de vista das iniciações, a purificação tem como fim conduzir o ser a um estado de simplicidade indiferenciada comparável com o da matéria prima (ou pedra bruta), para usar uma expressão da alquimia, afim de que ele se torne apto a receber o Fiat Lux iniciático; é preciso que a influência espiritual, cuja transmissão vai dar a ele essa iluminação primeira, não encontre nenhum obstáculo devido a pré-formações desarmônicas provenientes do mundo profano (ou, em palavras mais claras, é necessário passar pelas provações dos sete planetas, por isso Branca de Neve deita-se em todas as camas).
Relaxada e entregue, Branca de Neve não oferece nenhuma resistência à luz dos sete lampiões dos anões.

Os anões
Abandonar o mundo escuro e encontrar a luz tem suas conseqüências.
Existem algumas indicações, sobre quais são essas conseqüências da “saída da floresta escura”.
Nos primeiros versos do Inferno, na Divina Comédia de Dante Alighieri (outro grande iniciado: um dia vou explicar para vocês o real significado deste maravilhoso texto medieval), ele mesmo informa que a floresta representa o estado de vício e ignorância do homem.
Estar perdido na floresta é o mesmo que estar perdido no labirinto da multiplicidade da manifestação (“Labirinto do Fauno”, anyone?).

Ora, a saída da floresta escura, ou, o que dá no mesmo, a morte ao mundo profano, implica logicamente numa mudança de mentalidade que surge como a primeira parte da fase inicial de mudança no direcionamento geral do ser, que é necessária para alcançar um grau mais elevado de clareza e iluminação.
É evidente que a primeira providência prática, para alcançar essa mudança mental, está na revisão dos pontos de vista e das convicções pessoais, dos hábitos mentais, dos coágulos das emoções negativas, etc, etc. etc… ou seja, lapidar a pedra bruta até chegar ao elixir da longa vida.
Por isso mesmo, Branca de Neve deve se submeter a certas condições para poder ficar na casinha dos anões.
As condições para ela ficar na casa eram: primeiro, seguir os conselhos deles para não abrir a porta para ninguém, porque a rainha má com o poder de se disfarçar e enganar, poderia atacá-la e matá-la; e segundo, manter a casinha sempre limpa e arrumada.
Essa disciplina (em Branca de Neve) e essa limpeza interior (na casa dos anões, que representa nossa mente) são um espécie de treino para dominar todas as tendências obscuras e irracionais da alma, ambas necessárias para a realização do ouro interno, na sua pureza e luminosidade imutáveis.
Isto corresponde ao que a alquimia chama de “extração dos metais nobres a partir dos metais impuros por meio da intervenção dos elementos solventes e purificadores, como o mercúrio e o antimônio, em conjunção com o fogo, e que se efetua inevitavelmente contra a resistência e a revolta das forças caóticas e tenebrosas da natureza” (bonito este texto, não?),
Ora, crianças… os anões são os conhecedores da técnica que permite a realização desse trabalho, porque eles sabem extrair ouro da montanha .
Na alma do homem são como que lampejos primitivos de consciência, de iluminação e de revelação.
Anões são os gênios da terra, os famosos gnomos (e sim, eles existem mesmo… )
Como o texto nos diz que são sete, eles correspondem exatamente aos sete metais/planetas que os alquimistas designavam pelos mesmos símbolos usados na astrologia para os sete planetas.
Sol - ouro,
Lua - prata,
Mercúrio - mercúrio,
Vênus - cobre,
Marte - ferro,
Júpiter - estanho e
Saturno - chumbo.

Essas correspondências colocam em evidência a relação que existe entre a alquimia e a astrologia e que se fundamenta no princípio que a Tábua de Esmeralda exprime assim: “O que está embaixo é semelhante ao que está em cima“.
Por isso, Saturno, que é o planeta mais alto para Astrologia pois corresponde ao sétimo céu, eqüivale, na alquimia, ao chumbo, que está no ponto mais baixo da hierarquia.
A hierarquia dos planetas é ativa, enquanto a dos metais é passiva.

No próprio filme da Disney, alguns dos anões representam estas características dos metais e dos planetas, como por exemplo,  
Mestre/Doc – O mais velho dos anões, representa o Sol, o líder.
Feliz/Happy – representa a bonança e a fartura de Júpiter, gordinho e feliz.
Juntos são os dois anões mais gordinhos na concepção de Disney.
Em seguida temos
 Zangado/Grumpy representando a Ira de Marte,
Dengoso/Bashful representando a beleza de Vênus,
Soneca/Sleepy representando a Lua e seu pecado capital Preguiça,
Atchim/Sneezy representando as atormentações de Saturno e
Dunga/Dopey – Mercúrio, o mais rápido dos planetas, e também o menorzinho deles.

Mas, voltemos à parte do texto que descreve na linguagem simbólica e, portanto, mais rica do conto original:

“Quer ser encarregada de nossa casa?
 Será nossa cozinheira, fará as camas, lavará a roupa, coserá, fará meias para nós e conservará tudo limpinho e arrumado. Se trabalhar bem ficaremos com você, não terá falta de nada e será nossa Rainha.
Branca de Neve respondeu:
– Aceito, de todo meu coração!
E foi assim que ela ficou com os anõezinhos e tomou conta da casa deles.
De manhã os anões saiam pelas montanhas para procurar ouro, e quando regressavam, à noite, encontravam a comida preparada.
Durante o dia a menina ficava sozinha, e por isto os anões nunca deixavam de lhe dizer quando saiam:
 – Tome cuidado com sua madrasta, que mais cedo ou tarde acabará sabendo que você está aqui, e não deixe entrar ninguém.”

O tempo que Branca de Neve fica na casa dos anões é um tempo de treinamento, disciplina interior e aprendizado.
É nesse período, durante o qual acontecem seus três perigosos encontros com a madrasta disfarçada, que ela aprende a usar a sabedoria representada pelos anões (que no fundo está nela mesma) para lidar com os elementos ainda não ordenados que tem dentro de si.
As práticas ou rituais – implícitas no processo iniciático – preparam para o contato com o poder unificador do Espírito (Tiferet, a iluminação), cuja presença exige que a substância psíquica tenha se tornado um todo unificado.
Os elementos mais ou menos dispersos de nossa personalidade mundana são, desse modo, compelidos a juntar-se.
E, alguns deles chegam enraivecidos, vindos de lugares ocultos, remotos ou obscuros com os poderes inferiores ainda agarrados a eles.
É mais correto dizer, neste caso, que é o inferno que ascende do que afirmar que é o praticante que desce nele.
Quem sai do seu castelo enraivecida pela inveja e vai procurar Branca de Neve é a Madrasta, e não o contrário!
Essa guerra das forças inferiores conduz a uma verdadeira batalha que tem a alma como campo de luta (a tal simbologia da luta entre o “céu” e o “inferno” pelas nossas almas.
As três tentativas da rainha má para matar Branca de Neve mostram, que no começo do caminho os elementos psíquicos pervertidos estão de certo modo adormecidos e afastados do centro da consciência, do mesmo modo que a madrasta está no castelo, longe da casa dos anões.
Eles devem ser primeiramente acordados, pois não podem ser redimidos e transformados dentro do seu sono.
E é no momento em que despertam, num estado de ódio enfurecido contra a nova ordem, que existe sempre o risco de que eles se apossem de toda a alma.
O que não acontece no conto porque os anões, que são as partes de conhecimento da alma, não são atingidos pela rainha e por isso salvam a princesa nas duas ocasiões em que a madrasta disfarçada tenta matá-la.
A primeira através de sufocação com um espartilho apertado e a segunda com um pente envenenado na cabeça (estas partes acabaram ficando de fora da versão de desenho animado, mas constam da versão original do conto).
Esses episódios são descrições simbólicas da transformação do metal vil em metal nobre.
As faculdades corporais de conhecimento, representadas pelos anões, começam a atuar de modo consciente e é através de seu uso que Branca de Neve se salva por duas vezes.

A morte de Branca de Neve

A palavra morte deve ser compreendida neste caso no seu sentido mais geral, segundo o qual pode-se dizer que toda a mudança de estado, qualquer que seja, é ao mesmo tempo uma morte em relação a um estado antecedente e um nascimento em relação ao estado seguinte (como no mito da Fênix).
A iniciação é geralmente descrita como um segundo nascimento que implica, logicamente, na morte para o mundo profano.
É bom lembrar que toda mudança de estado deve se passar nas trevas, no escuro, o que explica o simbolismo da cor negra quando relacionada a esse assunto.
O candidato à iniciação deve passar pela obscuridade completa antes de alcançar a verdadeira luz.
É nesta fase de obscuridade que se dá a chamada “descida aos infernos”, que é uma espécie de recapitulação dos estados antecedentes, através da qual as possibilidades relacionadas ao estado profano serão definitivamente esgotadas, afim de que o ser possa, daí por diante, desenvolver livremente as possibilidades de ordem superior que ele carrega consigo e cuja realização pertence propriamente ao domínio iniciático.
No nosso conto, Branca da Neve “morre” ou muda de estado, depois que come uma maçã.
Come?
Não.
Ela se engasga.
Os anões conseguem ressuscitar Branca de Neve por duas vezes, mas não são competentes para fazê-lo quando se trata da maçã porque, como explicaremos em seguida, a maçã representa, não uma provação de ordem corporal, e sim uma do domínio da inteligência, pois que a maçã é o fruto símbolo do conhecimento.

A maçã

Desde a maçã de Adão e Eva até o pomo da Discórdia, passando pelo pomo de ouro do jardim das Hespérides, encontramos, em todas as circunstâncias, a maçã como um meio de conhecimento.
Ela está carregada de duplicidade pois, ora é o fruto da Árvore da Vida que está no meio do Paraíso e ora é o fruto da Árvore da Ciência do bem e do mal que, paradoxalmente, lá também se encontra.
Pode ser, portanto, conhecimento unificador que confere a imortalidade ou conhecimento desagregador que provoca a queda.
Se examinamos seu simbolismo, também, desde o ponto de vista de sua estrutura física, podemos constatar novamente essa duplicidade característica dos meios de conhecimento.
Assim, ela é símbolo do conhecimento, pois um corte feito perpendicularmente ao eixo revela que, no seu íntimo, está um pentagrama, símbolo tradicional do saber, desenhado pela própria disposição das sementes (faça o teste em casa, crianças!). Por outro lado, o pentagrama é também um símbolo do homem-espírito e desde esse ponto de vista ela indica, ao mesmo tempo, a involução do espírito dentro da matéria.

“A Rainha disfarçada bateu à porta, e Branca de Neve enfiou a cabeça e disse:
- Não posso deixar ninguém entrar.
Os sete anões me proibiram isso.
- Pior para mim, disse a velha, pois terei de voltar para casa com minhas maçãs.
Mas, olhe, eu lhe dou esta de presente.
- Não tenho coragem de comer, respondeu Branca de Neve.
- Será que está com medo? gritou a velha.
- Olhe vou parti-la em duas metades; você come a parte de fora e eu comerei a de dentro. ( A maçã estava preparada com tanta habilidade que só as partes vermelhas estavam envenenadas).”

Os anões não enterraram Branca de Neve, mesmo depois que a encontraram envenenada pela maçã e não conseguiram ressuscitá-la, porque depois de passar por essa fase, Albedo, não se volta mais ao Nigredo, pois o processo segue em frente para o Rubedo, que é a união com o Espírito representado pelo príncipe.
As cores alquímicas e seu simbolismo (indicadas também pelas aves que lamentam Branca de Neve) são claramente mostradas no texto abaixo:

“Quando os anõezinhos regressaram à noite encontraram Branca de Neve estendida no chão e aparentemente morta. Levantaram-na e procuraram nela alguma coisa venenosa, desapertaram-lhe o vestido e até lhe despentearam os cabelos e a lavaram com água e vinho.
Mas, de nada serviu.
A querida menina parecia realmente morta.
Estenderam-na então num ataúde e os sete anões colocaram-se à sua volta e choraram sem cessar durante três dias e três noites.
Depois quiseram enterrá-la, mas vendo-a tão fresca e com as faces tão coradas disseram uns para os outros:
- Não podemos enterrá-la na terra negra.
E encomendaram uma caixa de cristal transparente.
Através dela se via o corpo de Branca de Neve por todos os lados e os anões escreveram seu nome em letras douradas no vidro, dizendo que ela era filha de um rei.
Depois colocaram a caixa de cristal no alto de uma rocha e sempre ficava ali um deles vigiando.
Até os animais selvagens lamentaram a perda de Branca de Neve: primeiro chegou um bufo, depois um corvo e por último uma pomba.
Durante muito tempo Branca de Neve permaneceu placidamente estendida em seu féretro.
Nada mudou em seu rosto e parecia que estava adormecida, pois continuava negra como ébano, branca como a neve, vermelha como o sangue.”

Como dissemos acima, a maçã é um símbolo do Mundo.
Mas, o que a rainha má oferece a Branca de Neve é APENAS o aspecto mais externo, mais atraente e venenoso deste Mundo com o qual ela tem que entrar em contato para dominá-lo (novamente, temos um paralelo com Matrix).
A história nos conta que, apesar de aparentemente morta,
Branca de Neve mantinha o mesmo frescor de pele e a beleza luminosa do tempo em que estava viva.
Isso nos indica que a alma, com o corpo transfigurado e dissolvido nela, está pronta para que o Espírito aja sobre ela e a torne indestrutível.

“Passaram-se meses, e aconteceu que o filho do rei viajava pelo bosque, e entrou na casa dos anões para passar a noite. Não tardou a dar-se conta do ataúde de cristal no alto da rocha, contemplou nele a bela jovem que repousava, e leu a inscrição dourada.
Depois que leu, disse, dirigindo-se aos anões:
- Dêem-me esta caixa, e pagarei o quanto quiserem por ela.
Mas os anões responderam:
- Não venderemos nem por todo o ouro do mundo.
- Então quero-a de presente, disse o príncipe, porque não poderei viver sem Branca de Neve.
Os anões vendo a ansiedade com que ele fazia o pedido, ficaram compadecidos, e acabaram entregando a caixa, e o príncipe ordenou a um dos seus servos que a carregasse nos ombros.
Mas, aconteceu que este tropeçou numa raiz, e com o baque, saltou no chão o pedaço da maçã envenenada que estava na boca de Branca de Neve.
 Imediatamente esta abriu os olhos e levantando a tampa da caixa de cristal, voltou a si, e perguntou:
- Onde estou eu ?
- Está salva e a o meu lado! respondeu o príncipe cheio de alegria.
E lhe contou o que havia sucedido, terminando por lhe suplicar que o acompanhasse ao castelo do rei seu pai, pois ele a queria para esposa.
Branca de Neve aceitou, e quando chegaram ao palácio celebraram-se as bodas o mais rapidamente possível, com o esplendor e magnificência adequados a tão feliz sucesso.”
O pedaço da maçã, que Branca de Neve não engoliu e, portanto, não se tornou parte dela é um último vestígio do mundo que nela se mantinha, de certo modo, sobreposto.
Ele é retirado com a presença do príncipe.
O Espírito, então, dá a forma final à alma.
Existe uma versão do conto, bem antiga, na qual o Príncipe mantém relações sexuais com a Branca de Neve e o movimento da transa é que faz o pedaço de maçã escapar da garganta da princesa.
Esta versão é mais interessante do ponto de vista do Hieros Gamos, mas certamente daria alguns problemas com a censura se estivesse no desenho da Disney.

E a Rainha má?
“A rainha má a princípio resolveu não ir às bodas, mas depois não pode resistir ao desejo de ver a jovem Rainha, e, quando entrou e reconheceu Branca de Neve, de tanta raiva, e de tanto assombro, ficou como pregada no chão. Levaram-lhe então, seguros por uma tenazes, uns sapatos de ferro, aquecidos em brasa, e com eles a rainha teve que bailar até cair morta.”

O mundo manifestado, feito de agitação e desejo, esgota-se em seu próprio movimento, quando posto em frente da unidade do Espírito.
O casamento, símbolo da unidade e do encontro dos opostos toma aqui uma acepção específica: é a união da alma com Espírito.
União, impossível de acabar porque é feita de uma felicidade absoluta que está além e acima da matrix.
Por isso todos os contos iniciáticos acabam com a expressão “e viveram felizes para sempre.”
É bom lembrar que o sapato tem entre suas acepções simbólicas duas principais: é, primeiramente, representação do viajante e, portanto, do movimento.
Simboliza não só a viagem para o outro mundo, mas a caminhada em todas as direções, neste mundo mesmo.
Em segundo lugar, é uma prova da identidade da pessoa, como em Cinderela, que é reconhecida pelo príncipe porque seu pé cabe num sapatinho de cristal.
Na história de Branca de Neve, o pé da rainha má cabe num sapato de ferro em brasa.
Enquanto a delicadeza do cristal é a marca da identidade de Cinderela (outro dia eu falo sobre Cinderela), a rainha má é reconhecida pelo peso, dureza e densidade do ferro.
O símbolo deve pertencer sempre de uma ordem inferior à daquilo que é simbolizado; assim as realidades do domínio corporal, que são as de ordem mais baixa e mais estreitamente limitadas, não são simbolizadas por coisa alguma porque tal símbolo é completamente desnecessário, já que elas podem ser apreendidas diretamente por qualquer um.
Por outro lado, qualquer fenômeno ou acontecimento, (por mais insignificante que seja), devido à correspondência que existe entre todas as ordens de realidade, pode ser tomado como símbolo de algo de ordem superior, da qual ele é de certo modo uma expressão sensível, pois que deriva dela do mesmo modo como uma conseqüência deriva de seu princípio.

Agradecimentos ao irmão astrólogo Cid de Oliveira pelo texto original que eu expandi e adicionei comentários meus.


Há oitenta milhões de anos que a macieira cresce na terra. Já na época Neolítica, os homens consumiam a maçã... incontestável fruto mais velho do mundo.

Actualmente, não enrugou! Acompanha ainda o quotidiano e nutre o imaginário colectivo.... Se uma mulher e um homem partilham uma maçã, sem dúvida casarão rapidamente! Mas jogar com uma maçã pode tornar-se perigoso para uma jovem na Sicília. Se ninguém apanhar o fruto que deixou na rua na véspera de São João, ficará viúva muito rapidamente após o seu casamento.
Quanto aos naturais do Quebeque, fizeram da maçã uma metáfora do amor :

  • "cantar a maçã", é seduzir
  • "trincar a maçã", é ir mais longe...

O fruto de todas as crenças

Quer seja grega ou céltica, a mitologia fez da maçã um actor essencial das suas histórias. Cada cultura, cada tradição recorre a uma maçã... mesma a história e a ciência !
  • A Maçã da Discórdia
    Eris, a ninfa da Discórdia, declara um dia que uma maçã de ouro deve ser atribuída à mais bela deusa do Monte Olimpo. Hera, Afrodite e Atena disputam-se o troféu, de tal forma que Zeus deve pedir ajuda a Paris, um mortal, para as desempatar. Este, que nem é mais nem menos de que o filho de Priam, rei de Tróia, atribui a Maçã da Discórdia a Afrodite. Recebe em troca o amor da mulher mais bela do mundo, Helena. Mas a jovem mulher já é casada com o rei de Esparto, Menelas. Foge na mesma com Paris. O gesto deles provoca a vingança de Menelas... e a guerra de Tróia.
  • As maçãs do jardim das Hespéridas
    Heraclito, também ele, está confrontado com o fruto lendário. Para cumprir a sua 11ª prova, deve recuperar as maçãs de ouro das Hespéridas. Estas maçãs pertencem à Hera, recebeu-as em prenda de casamento. As Hespéridas guardam-nas num jardim, escondidas nos confins do mundo, com ajuda do dragão Ladon. Heraclito pede ao titã Atlas para ir colher os frutos, em troca de um serviço: terá de segurar a abóbada celeste por ele durante a colheita. Quando volta, Atlas recusa de voltar ao seu posto. Heraclito faz de conta de se submeter, e pede ao titã de retomar o fardo, enquanto ia apanhar uma almofada... Foge com as maçãs de ouro e vence !
  • O fruto da sabedoria celta
    Nos Celtas, a maçã era antes de mais o fruto da ciência e da magia. Não nos esquecemos que Merlim o Encantador ensinava o seu conhecimento debaixo de uma macieira...
    Os Celtas consideravam que as maçãs vinham da ilha de Avallon, a ilha das maçãs. Esta parcela de terra, situada além do oceano, marcava a fronteira entre o mundo dos deuses e o dos vivos. Sem dúvida que para os mortais, a maçã tinha um valor sagrado, e até místico !
  • A Tentação e a herança do pecado
    Quem nunca ouviu falar dos desgostos do Adão e da Eva! Conta-se que um pedaço do fruto proibido teria ficado preso na garganta do Adão. É deste incidente que teria aparecido a famosa "maçã do Adão" na fisionomia masculina...
    Mas, no fundo, tratava-se realmente de uma maçã? A Bíblia menciona um "fruto", nada mais. É da interpretação latina que apareceu a designação da maçã, de uma confusão entre "malum" (a maçã) e "malus" (o mal).
  • Guilherme Tell
    No início do século XIV, o imperador da Áustria nomeia um governador austríaco, Gessler, com o título de bailio da aldeia de Artof. À sua chegada, o novo bailio decida de fixar o seu chapéu na praça pública, obrigando os habitantes da aldeia a saudá-lo simbolicamente a cada passagem.
    Um dia, Guilherme Tell atravessa a praça com o seu filho, mas não se submete. É imediatamente preso. O bailio Gessler dá-lhe a escolher entre a pena de morte e um desafio: furar com a sua besta uma maçã colocada em cima da cabeça do seu filho. Guilherme Tell aceita o desafio e vence a prova. Este episódio estaria na origem da rebelião dos Suíços contra os Duques da Áustria e da independência da Suíça.
  • A maçã de Newton
    Eis uma maçã que deu volta a muitas cabeças por uma questão de atracção... !
    Mal sabia ela que ao cair em cima da cabeça de Newton adormecido, desencadearia uma reflexão de maior importância na história das ciências?
    De qualquer forma, foi em seguimento a este acontecimento imprevisto que Isaac Newton teria descoberto as leis da gravidade universal...
copiado de http://www.maca-pinklady.com/La-pomme-et-ses-legendes.html