21 DE NOVEMBRO - Agenda Mágica

Celebração da deusa Cailleach, a senhora da noite e da morte.
Uma das mais antigas e reverenciadas deusas celtas, Cailleach foi conhecida sob inúmeros nomes:
Cailleach Bheur ou Carlin, na Escócia;
Cally Berry ou Cailleach Beara, na Irlanda;
Cailleach my Groamch, na Ilha de Man;
Black Annis, na Bretanha, e
Digue, no País de Gales, todas equivalentes da deusa hindu Kali.

Cailleach regia o céu e a Terra, o Sol e a Lua, o tempo e as estações.
Ela criava as montanhas com as pedras que carregava em seu avental, mas também trazia aos homens as doenças, a velhice e a morte.
Seu nome não aparece nos relatos escritos, apenas nas antigas lendas e crenças ligadas aos lugares que levam seu nome.
Acredita-se, por isso, que ela era uma divindade pré-celta, trazida pelos povos colonizadores das Ilhas Britânicas, vinda do leste europeu, possivelmente da Índia.
Nas lendas medievais, ela é descrita como a Rainha Negra ou a Velha Bruxa, seu nome passando a ser sinônimo de mulher velha.
Cailleach é a guardiã do portal que leva à parte escura do ano, iniciada no Sabbat de Samhain e é invocada nos rituais de morte e transformação, com muita seriedade e profundo respeito.

Dia do deus maia Kukulcan, a Serpente Emplumada, o primitivo deus tolteca que foi, posteriormente, sobrepujado pelo deus Quetzalcoatl.

copiado de Teia de Thea


Abaixo texto de Mirella Faur copiado de DEUSA VIVA
Uma publicação do Círculo de Mulheres da Teia de Thea
Lua Cheia, Novembro de 2010, nº 133

Cailleac, a anciã celta, regente do inverno

“Cailleach é “Aquela com duas faces”, uma jovem, usando a cor do azul real, bonita e desejável, criando e nutrindo uma nação; a outra, de um negro profundo, enrugada e gasta por ser mais velha que o tempo, mas que protege e ensina seu povo.

Como Mãe Antiga e Anciã, Ela é a eterna e poderosa Cailleach, que está conosco desde o início e permanecerá até o fim, punindo as injustiças e as violências cometidas contra a Natureza com seu veloz poder, pois a destruição é necessária para renovar a vida”
 
Silver Wolfwinds


Evidências históricas e mitológicas revelam que na Europa antiga, no período neolítico, antes da difusão das culturas indoeuropeias, existia um culto continental  de uma Deusa Mãe.


Da mesma forma na Irlanda, habitada por milhares de anos antes da chegada dos
celtas – os primeiros imigrantes indo-europeus - a cosmologia e a reverência
religiosa eram centradas na energia  feminina , considerada origem do universo e de todas as formas de vida.
Com o passar do tempo, os valores indoeuropeus reorientaram os conceitos ideológicos e místicos do enfoque matrifocal nativo para uma estrutura patriarcal, divina e religiosa.
Na Irlanda a tradição de uma Deusa Mãe, cósmica e telúrica, foi bastante preservada e houve a continuidade da soberania feminina, reconhecida pelos seus atributos de
fertilidade e pela sua manifestação e presença na natureza.
Porém não existia um culto organizado de uma única Deusa Mãe, a sagrada presença feminina era um foco central na consciência humana e na cultura, manifestada tanto como uma extensão do amor filial pela mãe divina, quanto na identificação da terra com
o ventre (fonte de vida e nutrição) e do túmulo (local da morte e da dissolução), combinando assim ambos os aspectos de um mesmo arquétipo: criador e nutridor, transformador e renovador.
Enquanto em outras culturas os aspectos míticos e arquetípicos deram origem às diversas figuras da Grande Mãe (regentes da fertilidade, amor, criação, nutrição, sustentação) e da Ceifadora (padroeiras da privação, hostilidade, guerra, destruição, morte), os mitos originais celtas e irlandeses combinam em um mesmo personagem estes atributos contraditórios.
Na cultura celta, apesar da presença de um extenso panteão masculino, a essência divina feminina – cósmica e telúrica - permeia o Todo com a sua energia e poder.
Na tradição irlandesa, o relacionamento dos heróis semidivinos (que representam nas
narrativas os aspectos míticos dos deuses celtas) com a Deusa, é um tema central e constante.
Há um contraste, no entanto, entre o assim chamado “tempo feminino”, cíclico, associado a ritmos cósmicos e biológicos e o “tempo masculino”, que progride em sucessão linear e histórica, descrevendo façanhas e conquistas dos heróis para burlar e escapar da morte.
Os mitos e as histórias masculinas são dominados pelos atos heróicos de seres divinos ou semidivinos, enquanto os mitos femininos estão repletos de referências geográficas de lugares e características naturais ligados à vida, morte e enterros de figuras femininas divinas ou semidivinas.
Os nomes dos arquétipos femininos permanecem na paisagem e nos lugares das assembleias sagradas, onde eram celebrados os ritos de passagem e os festivais agrícolas.
As deusas invocadas nestas datas personificavam as forças da natureza - tanto produtivas, quanto destrutivas - que deviam ser dominadas com violência pelos homens
para que servissem aos seus interesses, mas que depois eram reverenciadas para que fosse aplacada a sua vingança.
Assim, a figura da mulher é deixada fora do tempo, desprovida de passado ou futuro,
não sendo nem verdadeira, nem falsa, enterrada profundamente na terra, como arquétipo e importância (política, histórica e religiosa).
Desta forma, na tradição medieval irlandesa, a Deusa Mãe é reduzida a uma soberana ou rainha territorial, cuja autonomia e autoridade foram diminuídas e usadas pelas dinastias patriarcais, que competiam pela hegemonia política.
Porém, no nível esotérico e mítico, a Deusa Mãe mantém sua majestade e poder nas formas do relevo geográfico, nas histórias dos lugares e costumes e sobrevivendo nas memórias e na imaginação popular.
Levando em consideração esta premissa, entendemos porque em todo o mundo gaélico - de Irlanda a Gales e Escócia - são encontradas até hoje tradições e histórias da Cailleach, a Anciã Sobrenatural associada a montanhas, colinas, lagos, rios, grutas, pedras e câmaras subterrâneas, cujas formas e localizações tinha sido Ela mesma que modelou e fixou.
Sua lembrança também persiste nos encontros sobrenaturais dos humanos com seres e dimensões do “Outro Mundo”.
A mais proeminente destas figuras da Anciã ou da “velha velada” (significado do seu nome) é Cailleach Bheara, regente da grande península do sudoeste da Irlanda. Bheara é considerada o lugar legendário onde aportaram os Milesianos, que destronaram os seres
míticos Tuatha de Danann e os obrigaram a se ocultar nos reinos subterrâneos, onde continuam reinando sobre as forças da natureza.
Cailleach Bheara personifica a soberana territorial, cujo poder é tão vasto quanto indomável, mas ao mesmo tempo fertilizador e nutridor para a existência humana.
Suas representantes no mundo real são as parteiras, as mulheres sábias, as videntes e as carpideiras, que prestam até hoje serviços às comunidades.
Foram o poder e as ações de Cailleach Bheara que modelaram colinas, determinaram o curso dos rios e a forma dos lagos, a localização das ilhas e das grutas.
As tempestades, ventanias e marés revelam seu poder transmutador e as histórias antigas descrevem sua atuação divina e soberana na formação geotectônica da paisagem,
pois Cailleach carregava rochedos enormes no seu avental e os que caiam se transformavam em montanhas e colinas.
As características geográficas atuais e as lendas sobre sua formação lembram à humanidade a comunhão arcaica com o Outro Mundo, perpetuando a sua lembrança na
consciência do povo e na tradição cultural e mística.
Como deusa neolítica Cailleach era conhecida como “anciã azulada”, ”deusa ursa” ”deusa javali”, “a velha com cara de coruja”, tendo sido cultuada durante milênios pelos povos proto-celtas, que mesclaram e fundiram seus vários aspectos em imagens que evocavam tanto o amor, quanto o terror, pois Ela controlava as estações e o tempo, sendo regente da terra e do céu, da Lua e do Sol .
Supõe-se que sua ausência nos mitos da Irlanda e Escócia - sendo lembrada apenas pelos nomes de lugares e nas histórias - se deve à sua origem pré-celta, tendo sido trazida pelos emigrantes das longínquas regiões do centro e Norte da Europa.
Seus inúmeros nomes variavam entre Cally Berry e Caillighe na Irlanda do Norte, Caillech Bherri, “Anciã de Bheara” e Digne na Irlanda do Sul, Cailliach ny Gromach na Ilha de Man, Carline, Dirra, Scotia e Nicnevin na Escócia, Black Annis na Grã Bretanha.
Nas suas diversas apresentações Cailleach é a personificação da idade e da sabedoria, regente do inverno, que ela chamava pulando de uma colina para outra e sacudindo seu bastão mágico feito de um galho de bétula ou salgueiro.
Ela era a “Senhora das Colinas Sagradas” (Sidhe) e dos “Portais para o Mundo das Fadas” (Fey People), pois também regia sonhos e percepções sutis, sendo a Mãe Anciã das pedras e rochas, os ossos sacros e os registros das memórias da terra.
Ela também era guardiã de vários animais, as renas e os cervos sendo especialmente protegidos contra os caçadores, além dos javalis, ursos, lobos, raposas, gatos pretos e
peixes.
Na Escócia Cailleach era considerada filha de Grainne, o Sol de inverno, a ancestral dos clãs dos caledonianos, a “Giganta das geleiras” que protegia seu povo e o acalentava no interior das montanhas sagradas.
O reino de Cailleach começava no Samhain, o Sabbat que comemorava a morte da vegetação e o início do inverno, com a chegada do frio, da escuridão e das nevascas.
No Sabbat oposto na Roda do Ano – Beltane - ela escondia seu bastão de poder sob um
arbusto de azevinho e se metamorfoseava em uma rocha cinzenta, anunciando assim o término do inverno.
Em outros mitos ela se transformava em uma jovem mulher na véspera de Imbolc, sendo
portanto a figura complementar e oposta de Brigid (ou aspectos de uma mesma deusa) e recebia de volta o bastão branco guardado por Brigid durante a primavera e o verão e que no Samhain, pelo seu toque, voltava a ser escuro e coberto de gelo.
Em um mito da Escócia relata-se que, durante os meses de inverno, ela mantinha cativa a deusa Brigid no topo da montanha Ben Nevis.
Cailleach era portanto a guardiã do portal para a escuridão e a imobilização da metade
escura do ano, quando toda a vida diminuía seu ritmo, a seiva descendo para as raízes, os animais entrando em hibernação e os seres humanos silenciando e mergulhando no seu interior.
Assim como a crisálida que permanece imóvel durante o inverno até a chegada da primavera, toda a vida ficava suspensa pelo toque do negro e gelado bastão de Cailleach.
Na Irlanda Cailleach faz parte de uma tríade de deusas juntamente com suas irmãs - Cailleach Bolus e Cailleach Corca -, seu lugar sagrado sendo na peninsula de Bheara, na fronteira entre Cork e Kerry; sua essência é contida em uma formação rochosa, cuja
estrutura geológica é única na região e que reproduz o perfil de uma mulher idosa.
Lá, na parte noroeste da ilha, na beira-mar, Ela é reverenciada até hoje com oferendas de pequenos objetos, cristais, pedras e moedas.
No Oeste da Irlanda os penhascos ingremes dos Cliffs of Moher pertenciam a Cai l leach, reverenciada no Samhain como a Velha Bronach, regente das Banshee (ancestrais),
cujo choro era ouvido no sibilar do vento que assola permanentemente a região.
Os túmulos megalíticos de Loughcrew situados no topo de Slieve na Calliag (“a montanha da anciã”) são famosos pela rocha que reproduz uma cadeira, honrada como o seu trono.
Cailleach era descrita às vezes como uma giganta com um só olho, brilhando no meio de um rosto azulado ou uma velha com dentes vermelhos, cabelos brancos desgrenhados, cobertos com um lenço, usando roupas cinzentas e um avental enfeitado com cristais de
gelo.
Cailleach podia renovar permanentemente a sua juventude e os inúmeros homens que ela amou morriam de velhice, enquanto ela rejuvenescia ao mergulhar nas águas azuladas do lago Loch Ba, buscando depois outro jovem para se nutrir com o seu amor.
Na sua fazenda ela contratava trabalhadores que, somente iriam ser pagos, se a ultrapassassem no rendimento do trabalho.
Iludidos pela sua aparência de mulher idosa, frágil e corcunda, os homens concordavam, mas morriam de estafa ao tentar manter o mesmo ritmo, pois a sua força era sobrenatural.
Na Escócia costumava–se até recentemente transformar as últimas espigas de milho na figura de uma mulher coberta com um simulacro de roupas e fitas coloridas, denominada Cailleach ou “Fome”; o homem que tinha cortado as espigas era chamado “inverno”, coberto com panos, sua face escurecida e molhado com água gelada.
Como aquele que guardasse e zelasse pela representação de Cailleach era predestinado a morrer ou perder seus animais, ninguém queria ser o seu detentor, por isso se apressava enviar a figura para um vizinho que ainda não tivesse acabado sua colheita.
Este gesto era visto como um desafio ou insulto, muitas vezes resultando em derramamento de sangue.
Para passar a Cailleach à outra fazenda, era escolhido um jovem saudável, instruído para galopar ao anoitecer ao redor do campo que ainda não tinha sido colhido, jogando a figura da Anciã no meio das espigas e continuando seu galope para não ser descoberto e preso,
sendo submetido a punições e humilhações.
Algumas montanhas da Escócia guardam o nome da Cailleach no seu aspecto de
“Senhora das M o n t a n h a s ” (Cai l l each na Mointeach), como nas duas colinas
semelhantes aos seios de uma mulher da ilha de Skye (Beinn na Cailleach) e nas montanhas Pairc d a i l h a d e Callanish, que imitam o perfil de uma mulher deitada chamada Sleeping Lady.
No centro deste lugar sagrado, a cada 18 anos a Lua “dança” no horizonte ao atingir o
ponto extremo do seu deslocamento para Sul, unindo assim a jovem Brigid e a velha Cailleach.
A memória dos tempos antigos permanece oculta em muitas lendas e histórias  folclóricas, lembrando as épocas quando a Anciã era honrada e reverenciada como a condutora dos heróis para a morte – quando eles se perdiam numa floresta escura - ou das heroínas para o sono transformador, ao serem aprisionadas atrás das muralhas de um castelo à espera do seu despertar.
Estas histórias simbolizam antigos ritos de passagem, em que os desafios e os testes eram os sinais que pontuavam o rumo para a transformação e evolução da alma.
A escuridão era associada com os novos começos, com o potencial da semente oculta no solo e a sabedoria expressa nas figuras de poderosas deusas anciãs, cuja tarefa era catalisar as mudanças no contexto natural, cultural ou individual através do poder transformador da escuridão, na transição da morte para uma nova vida.
Com o passar do tempo a Anciã foi rebaixada para a figura da Madrasta vingativa, da Bruxa malvada e da Velha punidora e o respeito e reverência perante a Mãe Negra e Anciã distorcidos no pavor da velhice, da escuridão e da morte.
As anciãs não mais são honradas pela sua sabedoria, mas denegridas pelo espectro temido do envelhecimento e da decrepitude, a morte temida, ocultada e negada e a escuridão vista como sinônimo de perigo e mal.
Porém, ao resgatar os antigos conceitos matrifocais, as mulheres contemporâneas reencontram a reverência e o respeito perante as Anciãs, Senhoras do Tempo, da Escuridão e da Sabedoria, tornando-se Suas mensageiras no processo de transmutação e
renovação de valores e comportamentos, partilhando com os demais a visão da Natureza como Nossa eterna e amada Mãe.

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