A Grande Rede

Os povos nativos afirmam que todos fazem parte de uma grande rede na qual estamos todos responsavelmente ligados e o que fizermos, uns aos outros, inclusive à Mãe Terra, retornará para nós.

Curiosamente a física quântica partilha essa verdade.

Sob esse enfoque podemos repensar, desde a nossa ligação responsável à Mãe Terra, seus filhos, a Humanidade e mais perto de nós, nossa comunidade, até chegarmos ao núcleo dessa Grande Rede, a família.

A ancestralidade e a força arquetípica da família se manifestam desde a aurora da humanidade, quando os primeiros grupos de hominídeos coletores saiam em busca de alimento e abrigo, sempre dividindo entre eles o que coletavam e se protegendo mutuamente das intempéries do caos primitivo.

Era o tempo do matriarcado e cabia ao feminino com sua força integrativa fazer esta liga de união e partilha, que deu origem à família primordial arquetípica que mantemos até hoje internalizada.

Essa força se revela através da necessidade de ser parte de uma tribo, seja ela o par conjugal e os filhos, ou grupos religiosos (monastérios), políticos, esportivos, comunitários, etc.

O instinto que nos leva a essa procura é a energia sexual posta a serviço da sobrevivência da espécie, seja através dos filhos ou sublimada em ideais grupais.

Temos notícias de como tudo aconteceu nos primórdios, através de estudos arqueológicos ou da imaginação da artista no livro "No vale dos cavalos", de Jean M. Auel.

Após a última glaciação, quando os rebentos verdes irrompiam a vastidão do branco, com a força de vida da primavera; das cavernas geladas saiam os clãs que, atendendo a esta força, se dirigiam ao grande acampamento de verão.

Este era convocado por um líder que se revezava a cada ano e propiciava que a Grande Rede tecesse sua trama através dos casamentos e iniciação sexual que eram efetuados ritualisticamente.

Era o matriarcado e a Grande Deusa e a sua força de criação eram reverenciadas através da sexualidade.

As mulheres que tinham mais filhos (a grande dádiva da Deusa) e por isso as mais prestigiadas nos clãs, iriam iniciar os adolescentes.

Elas pintavam os pés de vermelho e circulavam no acampamento entre os adolescentes extasiados.

Eram as sacerdotisas conhecidas como "as pés vermelhos", muito respeitadas pelos seus trabalhos.

Aos melhores caçadores e guerreiros era dada a função de iniciar as adolescentes.

Paralelamente, acordos políticos de paz e proteção mútuos eram estabelecidos sob a proteção do Xamã.

A comercialização, na base de trocas, consistia em circular as mercadorias, peles, gêneros alimentícios, pedras preciosas e ouro bruto e principalmente o âmbar que, por ser a dádiva da Grande Deusa, era o maior bem material.

Os casamentos se davam entre os clãs e o maior dote da noiva era ela já ser mãe, o que garantia a perpetuação da espécie.

A Rede era mobilizada coletiva e individualmente e assim se iniciava o que veio a ser os futuros países, transações comerciais e a família como hoje a vemos.

                                                                               
                                                                                        texto de Carminha Levy

Um comentário: